sábado, 15 de outubro de 2016

A formiguinha e a neve ilustrada

A formiguinha e a neve ilustrada















Poderá também gostar de:a















Poderá também gostar de:

O COELHINHO PIRRACENTO

Vivia no bosque verde um coelhinho doce, meigo e macio, mas pirracento. Sempre que via algum animal do bosque tirava sarro dele. Um dia, quando estava sentado à sombra de uma árvore, aproximou-se dele um esquilo, e disse: Olá senhor coelho! O coelho não respondeu. 
Olhou, mostrou a língua e saiu correndo. Que mal educado! Pensou o esquilo. A caminho da sua toca, o coelho encontrou um cervo, que também quis saudá-lo. Bom dia senhor coelho! De novo o coelho mostrou a língua ao cervo e saiu correndo.

Valores de tolerância para as crianças

Conto infantil: o Coelhinho pirracento
Assim aconteceram várias vezes com todos os animais do bosque que o coelho encontrava pelo caminho.
Um dia todos os animais decidiram dar uma boa lição no coelho mal educado, e fizeram um acordo para que, quando algum deles visse o pirracento coelho, não o cumprimentasse. Iriam fazer como se não o tivessem visto.
E assim aconteceu. Nos dias seguintes todo mundo ignorou o coelho. Ninguém falava com ele, nem o saudava. Um dia, todos os animais do bosque organizaram uma festa e o coelho ouviu onde iriam celebrar e pensou em ir, mesmo não sendo convidado.
Naquela tarde, enquanto todos os animais se divertiam, apareceu o coelho no meio da festa. Todos fizeram de conta que não o tinham visto. O coelho, constrangido pela falta de atenção dos seus companheiros, decidiu ir embora com as orelhas baixas.

Os animais, com pena do coelho, decidiram ir até a sua toca e convidá-lo para a festa. Não sem antes fazê-lo prometer que nunca mais faria pirraça a nenhum dos animais do bosque.
O coelho, muito contente, prometeu nunca mais pirraçar dos seus amiguinhos do bosque, e todos se divertiram muito na festa e viveram felizes para sempre.
FIM
Moral da estória: Procure nunca pirraçar seus pais, seus irmaos, nem amiguinhos.

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Jogos e brincadeiras: Origens das diversões das crianças brasileiras



 Alguns brinquedos, jogos e brincadeiras tradicionais entre as crianças brasileiras têm origens surpreendentes. Vêm tanto dos povos que deram origem à nossa civilização (o índio, o branco, o negro), como até mesmo do longínquo Oriente.

Atualmente, no mundo cada vez mais urbanizado, industrializado e informatizado, a tendência é que muitas das brincadeiras tradicionais percam espaço nas preferências infantis. Mesmo assim, jogos e brinquedos como a peteca, a amarelinha, a ciranda, a pipa e a cama de gato têm valor cultural inestimável, e o lugar dessas brincadeiras no folclore já está garantido.

Peteca
Quando os portugueses chegaram no Brasil, encontraram os índios brincando com uma trouxinha de folhas cheia de pequenas pedras, amarrada a uma espiga de milho, que chamavam de Pe?teka, que em tupi significa "bater". A brincadeira foi passando de geração em geração e, no século 20, o jogo de peteca tornou-se um esporte, com regras e torneios oficiais.

Amarelinha
Essa brincadeira tão tradicional entre as crianças brasileiras também é chamada de maré, sapata, avião, academia, macaca etc. A amarelinha tradicional é desenhada no chão com giz e tem o formato de uma cruz, com um semicírculo em uma das pontas, onde está a palavra céu, lua ou cabeça. Depois vem a casa do inferno (ou pescoço) e a área de descanso, chamada de braços (ou asas), onde é permitido equilibrar-se sobre os dois pés. Por último, a área do corpo (ou quadrado).

Cama-de-gato
A cama-de-gato é uma brincadeira com barbante. Consiste em trançar um cordão entre os dedos das duas mãos e ir alterando as figuras formadas. Provavelmente de origem asiática, a brincadeira é praticada em diversas partes do mundo. Uma versão mais moderna é trançar um elástico com as pernas.
Cinco Marias
Também chamada de três Marias, jogo do osso, O nente, bato, arriós, Telhos, chocos, nécara etc. O jogo, de origem pré-histórica, pode ser praticado de diversas maneiras. Uma delas é lançar uma pedra para o alto e, antes que ela caia no chão, pegar outra peça. Depois tentar pegar duas, três, ou mais, ficando com todas as peças na mão. Na antiguidade, os reis praticavam com pepitas de ouro, pedras preciosas, marfim ou âmbar. No Brasil, costuma ser jogado com pedrinhas, sementes ou caroços de frutas, ossos ou saquinhos de pano cheios de areia.
Pipa
Pipa, papagaio, arraia, raia, quadrado, pandorga... As pipas apareceram na China, mil anos antes de Cristo, como forma de sinalização. Sua cor, desenho ou movimento poderia enviar mensagens entre os campos. Os chineses eram peritos em construir pipas enormes e leves. Da China elas foram para o Japão, para a Índia e depois para a Europa. Chegaram no Brasil trazidas pelos portugueses. Os tipos de pipa mais conhecidos são o de três varas, o de cruzeta e o de caixa. Para confecciona-las bastam algumas folhas de papel, varinhas e linha.

Ciranda
A famosa dança infantil, de roda, conhecida em todo o Brasil, teve origem em Portugal, onde era um bailado de adultos. O Semelhante a ela é o fandango, baile rural praticado até meados do século XX no interior do Rio de Janeiro (Parati) e São Paulo, em que homens e mulheres formavam rodas concêntricas, homens por dentro e mulheres por fora. Os versos que abrem a ciranda infantil são conhecidíssimos ainda hoje: "Ciranda, cirandinha/ Vamos todos cirandar/ Vamos dar a meia volta/ Volta e meia vamos dar". De resto, há variações regionais que os complementam como "O anel que tu me deste/ Era vidro e se quebrou./ O amor que tu me tinhas/ Era pouco e se acabou".

A HISTÓRIA DO JOGO DA PETECA

A peteca é uma modalidade esportiva de tradição regional de origem indígena brasileira, surgida em forma de competição no estado de Minas Gerais. Trata-se de uma modalidade que se apropriou de parte da estrutura do voleibol na organização do espaço e do controle de jogo, tais como: a altura da rede, a contagem de pontos, os fundamentos (toque, cortada, saque, defesa). Utiliza-se um implemento (a peteca propriamente dita) que é golpeado ou tapeado de um lado para o outro da quadra, em toque único, isto é, não se permite a armação de jogadas como no voleibol. O objetivo é fazer a peteca tocar no espaço de jogo adversário delimitado pelas linhas laterais e de fundo. Pode ser praticado individualmente ou em duplas.
A origem da peteca é cheia de nuanças como foram as origens de tantas outras modalidades. O implemento do jogo tem uma versão asiática – em Singapura, por exemplo –, onde se tornou muito popular como brincadeira infantil. Por outro lado, a peteca é um jogo tradicional de indígenas da região centro-sul do Brasil. Assim, alguns historiadores sugerem que a peteca já estava presente na cultura dos índios brasileiros, mesmo antes da chegada dos portugueses. Além disso, a peteca teria sido utilizada como recreação de crianças e moças brancas e negras durante o Brasil Colônia, se estendendo até a atualidade. Inicialmente era um brinquedo confeccionado artesanalmente com penas de aves domésticas, palha de milho e pequenas pedras e fazia parte do folclore mineiro. A peteca passou também a ser fabricada por empresas de brinquedo infantil que as confeccionavam coloridas e macias. De geração em geração, os antepassados foram transmitindo esta atividade que se espalhou pelo Brasil, mas, sem a forma competitiva na feição hoje encontrada em Minas Gerais. Todavia, a peteca originou uma terceira forma de jogo, como se pode presenciar nas praias cariocas. Portanto, o brinquedo peteca deu origem ao esporte peteca. Pela simplicidade das ações que envolvem o jogo (regras e elementos técnicos) rapidamente tornou-se atrativo em clubes e colégios de MG como forma de atividade física e de lazer. Hoje se torna inconcebível que exista algum clube recreativo e esportivo em Minas Gerais que não tenha quadras demarcadas para esta modalidade. Todavia, apesar de muito difundido no estado de MG, ainda é pouco conhecida em outros estados, embora a expansão da modalidade oficial tenha se dado pelas fronteiras com os estados do ES, DF, GO, BA e SP. O auge da peteca ocorreu na década de 1980, quando foi criada a Copa Itaú em Belo Horizonte. Este evento foi considerado a segunda maior participação de atletas no Brasil, naquele período, perdendo apenas para a corrida de São Silvestre. O apoio da mídia a Copa Itaú fazia com que o esporte ganhasse notoriedade. Hoje não existe um evento que tenha a mesma repercussão, embora o Banco Itaú mantenha um torneio no Triangulo Mineiro.

1920:
A peteca surge como recreação e aquecimento para nadadores da equipe brasileira que participou dos V jogos Olímpicos de Antuérpia, Bélgica. Nesta ocasião supõe-se que tenha despertado o interesse de atletas e treinadores de outras nações que presenciavam a novidade brasileira. Segundo testemunhos, a partir destes fatos surgiram os primeiros pedidos vindos dos finlandeses a José Maria Castelo Branco, chefe da delegação brasileira, naquele evento. Teriam solicitado ainda, a elaboração de regras e a padronização do jogo.

1936:
O professor alemão K.H. Krohn “descobre” o jogo de peteca passeando na praia de Copacabana, Rio de Janeiro-RJ. Ao voltar a Alemanha promove o novo esporte sob a denominação “indiaca”, a qual sobrevive até hoje tendo sido incluído no dicionário Brockhaus. Este registro léxico identifica a “indiaca” como jogo tradicional indígena do Brasil.
Década de 1940: Minas Gerais inicia a versão competitiva no jogo, realizando prélios internos nos clubes de Belo Horizonte, pioneiros do esporte. À época, algumas residências em Belo Horizonte já tinham uma quadra de peteca em suas dependências.

1973:
As primeiras codificações das regras da peteca são estabelecidas e assim surge a participação maciça de homens, mulheres, idosos, jovens e crianças que passam a praticá-la, seguindo as regras padronizadas.

1974:
A Federação Atlética Alemã-DTB declara o “indiaca” como o esporte do ano.

1975:
Em 15 de julho é fundada a Federação Mineira de Peteca – FEMPE, confirmando o pioneirismo no esporte em MG.
1977: O Conselho Nacional de Desportos-CND, através do Decreto nº 80.228, considera a peteca uma atividade física genuinamente brasileira.

1978:
O Mobral edita o livreto “Vamos jogar Peteca”, elaborado por técnicos do centro Cultural e do Grupo Executivo da Campanha “Esporte para Todos” – GECET, do Ministério da Educação – supervisão da Profª Maria Luiza Gonçalves Cavalcanti. Posteriormente a Secretaria de Educação Física e Desporto do MEC colaborou com a divulgação do esporte em todo território brasileiro via Campanha Esporte para Todos.

1985:
Sob esforços de Outorgantino Magalhães Dias “Tote” é aprovada em Brasília no dia 17 de agosto a oficialização do esporte, na segunda sessão do Plenário do Conselho Nacional de Desporto – CND, resolução nº 15/85, cabendo a Confederação Brasileira de Desporto Terrestre – CBDT a incumbência de codificar e estruturar o desporto como determina a lei.
1986: Em 1o de abril, a CBDT nomeou o esportista Walter José dos Santos para dirigir o Departamento de Peteca, bem como codificar as regras e regulamentos. Neste mesmo ano, em 6 de novembro, realiza-se em Belo Horizonte-MG a primeira reunião especialmente convocada para o estudo de providências, na qual estiveram presentes representantes de várias entidades incentivadoras da modalidade: Outorgantino Magalhães Dias (FEMPE), Walter José dos Santos (CBDT), Waldemar Aluysio Pereira (AABB), José Ely Rasuck (Minas Tenis Clube), Enedir das Graças de Souza (ACM), Marcílio Menezes (Cruzeiro E. Clube) entre outros.

1987:
Foi realizado em Belo Horizonte o 1º Campeonato Brasileiro de Peteca.
1991: Realização do 1º Campeonato brasileiro de interclubes de seleções estaduais.
1993: 1ª Copa Itaú de Peteca de Uberlândia, organizada pelo Praia Clube. Esta Copa acontece sem interrupção até a presente data.
1996: A Peteca passa a fazer parte do programa dos Jogos Universitários Brasileiros – JUBs realizado em Florianópolis – SC.
1998: Fundação da Liga Mineira e Entidades de Peteca – LIMEPE em Belo Horizonte, em 30 de março. Também foi fundada por atletas veteranos a Liga Máster de Peteca no triângulo mineiro com equipes de Minas Gerais, Goiás e Brasília. É uma liga independente, sem vínculos com clubes sociais ou federações. Já foram realizados 21 encontros ao longo de sua existência. Como exigência do estatuto desta liga, os atletas interessados devem ter no mínimo 46 anos, além de terem em suas equipes (que é formada por trios), um atleta com idade superior a 51 anos.

2000:
Fundação da Confederação Brasileira de Peteca-CBP, sendo fundador o Sr. Lazaro Soares, que assumiu a presidência.
2003: Realização da X Copa Itaú de Peteca em Uberlândia.
Situação Atual: No plano internacional houve um avanço da modalidade peteca por poder ser praticada por qualquer pessoa, em qualquer idade e em qualquer lugar. Por isso, no final da década de 1990, foi criada a International Indiaca Association – IIA, com sede na Alemanha. Nesta entidade há dois brasileiros (Antônio Abreu, como vice presidente, e Paulo Oliveira, como membro da Comissão Técnica) que se juntam a membros dos países em que o esporte se desenvolveu: Japão (um milhão de praticantes), Alemanha (20 mil praticantes), Estônia, Eslováquia e Suíça. Neste particular já houve duas Copas do Mundo de Peteca, realizadas na Eslováquia em 2000, e em Berlim, em 2002. A Copa de 2004 aconteceu no Japão. No Brasil, as federações e a confederação tem organizado competições para distintas faixas etárias, tanto masculinos como femininos em um mesmo evento. Este procedimento difere de praticamente todas as outras modalidades, quando os eventos acontecem em períodos distintos e nem sempre organizados pelas federações e confederações.
O departamento de Educação Física da Universidade Federal de Viçosa – UFV, entendendo a importância da peteca na cultura mineira, criou nos anos de 1990 uma disciplina específica sobre a modalidade, visando atender aos interesses dos alunos do curso de formação profissional. A peteca, por ter se originado de um jogo tradicional brasileiro e de brincadeira infantil, basicamente recreativo, sofre, ainda, um forte preconceito, pois muitos não a compreendem como um esporte de competição. Portanto, apesar do brinquedo peteca ser amplamente conhecido, o esporte peteca ainda é algo meio abstrato para a maioria das pessoas que não moram na região sudeste e especificamente em Minas Gerais. Os campeonatos oficiais brasileiros são organizados em forma de torneio, que em geral acontecem em apenas um final de semana. Isto é, os eventos são curtos e o período de preparação dos atletas muito longo. A falta de um calendário mais freqüente dos eventos faz com que a modalidade seja geralmente mais praticada como atividade recreativa. Os prêmios oferecidos aos atletas vencedores dos principais eventos, quando existem são simbólicos, os quais não permitem que a modalidade tenha atletas profissionais, aqueles que possam se dedicar cotidianamente ao treinamento da modalidade. A maioria dos clubes não é filiada às federações estaduais, o que dificulta o controle dos eventos, embora estes ocorram com freqüência nos diversos clubes praticantes. Em geral, são eventos para os próprios associados e convidados, com divulgação interna e precária. Somente no primeiro semestre do ano de 2003 a FEMPE apresentou um calendário oficial constando 15 eventos.
O Campeonato Mineiro de 1994, promovido pela Federação Mineira de Peteca – FEMPE, reuniu cerca de 1.200 atletas, representantes de 48 cidades. Os Jogos do Interior de Minas também demonstram a expansão da peteca no estado. A dimensão da quadra de peteca favorece condomínios e prédios residenciais que podem incentivar a prática, inclusive, a quadra de peteca nas plantas destes empreendimentos funciona como atrativo para a venda dos imóveis.
Uma vantagem da peteca sobre as demais modalidades é a realização simultânea de competição oficial em diversas categorias em função da idade, tanto masculina como feminina. Somente no primeiro semestre de 2003, a Liga Mineira e Entidades de Peteca – LIMEPE noticiou em seu calendário a existência de 11 eventos abertos no estado. Entre as décadas de 1970 e 1990 várias copas auxiliaram o processo de difusão da modalidade. Essas copas eram patrocinadas pelas empresas que recebiam seu nome: Copa Itaú, Copa Bamerindus, Copa Chevrolet, Copa Kaiser, entre outras. Hoje a ordem de grandeza dos praticantes de peteca em MG é estimada no mínimo em 1,2 milhões de pessoas. Entretanto, somente há 21 clubes filiados a FEMPE, dos quais 10 são de Belo Horizonte. Os dois pólos de prática de peteca em MG são Belo Horizonte (dados no mapa deste capítulo) e o Triângulo Mineiro. A produção diária de petecas nas duas principais fábricas de MG é de 1100 unidades.

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

AS SAPATILHAS DE SOFIA

Era um dia de sol muito brilhante na aldeia, e Sofia não conseguia abrir os olhos naquela luz tão intensa.
Na aldeia faz sempre muito calor, raramente chove mas, quando isso acontece, a chuva cai, ininterruptamente, dias seguidos.
No ar pairava uma quietude quando, de repente, se ouviu um ruído semelhante ao zumbido de um enxame de abelhas, que aumentava cada vez mais.
O porco começou a grunhir e as galinhas a cacarejarem.
Sofia queria perceber o que se passava e, sentada direita como um pau de vassoura, pôs-se à escuta. "Deve ser o carro do homem dos números", pensou ela enquanto esfregava os olhos.
Uma vez por ano, um homem da cidade chegava à aldeia num  carro vermelho. O povo da aldeia dizia que

era o homem dos números. O homem contava as pessoas da aldeia a mando do governo. Depois de fazer o seu percurso, o homem parou em frente da casa de Sofia.
— Quantas pessoas vivem aqui? — perguntou.
— Duas — respondeu Sofia, — a minha mãe e eu.
— Vejamos, assim dá um total de 154 pessoas. O ano passado eram…
O homem dos números tinha ouvido dizer que o pai de Sofia morrera porque não havia médico na aldeia e não havia nenhum hospital por perto.
Sofia olhava fixamente para o calçado do homem.
— Ah! Nunca viste umas sapatilhas?
Sofia ficou ruborizada. O segredo, que acalentava há tanto tempo, ocupou-lhe por inteiro o pensamento, que voou para tão longe como os falcões voam em grandes círculos no azul dos céus. No fundo do coração Sofia sentia que, se algum dia tivesse umas sapatilhas iguais às daquele homem, o seu desejo se transformaria em realidade.
— Vamos até à margem do rio? — disse o homem dos números. — Põe os pés nessa lama de barro fino. Agora sai!
Sofia gostou da sensação do barro a escorrer por entre os dedos dos pés. O homem tirou a régua do bolso das calças e mediu as marcas dos pés de Sofia. Enquanto coçava a barba, fazia contas em voz alta e acabou por dizer:
— Vejamos… dentro de trinta dias vais receber um presente.
Sofia contava os dias… Algum tempo depois,  o carro dos correios atravessou a aldeia e deixou-lhe na porta de casa um pacote. Depois de sofregamente abrir o pacote, gritou:
— Umas sapatilhas!e
Calçou-as com muito cuidado e exclamou:
— Agora, já posso realizar o meu desejo secreto!
— Que desejo? — perguntou a mãe.
— Agora já posso ir à escola, mãe!
— Mas, minha querida, a escola fica a oito quilômetros e o caminho é muito mau!
— Eu sei, mãe, mas é que eu agora tenho umas sapatilhas… — respondeu Sofia enquanto saltitava de alegria.
Um sorriso começou a desenhar-se lentamente na boca da mãe de Sofia. Recordou a filha de vestido amarelo, cor do sol, a correr ao lado do pai que, com a pequena lousa preta debaixo do braço, procurava a sombra de um coqueiro. Recordava a filha, de olhar fixo e sem pestanejar, a olhar a lousa onde o pai fazia só rabiscos a que chamava letras: "Este aqui é o teu nome e este é o nome da nossa aldeia", ensinava ele à Sofia.
— Creio que pode ir à escola — disse então a mãe à Sofia.
No dia seguinte, ainda o sol não tinha nascido e já Sofia comia uma tigela de arroz com peixe salgado e se punha a caminho através dos arrozais. As sapatilhas protegiam-na das pedras aguçadas. E corria como se tivesse asas nos pés!
Com um salto atravessou riachos e percorreu uma estrada deserta, onde só passava um carro de longe a longe. Sofia corria e corria, cada vez mais depressa, até que por fim avistou a escola que tinha apenas uma sala de aula.
As sandálias dos alunos estavam, em fila alinhada, junto à porta da entrada. Sofia tirou rapidamente as sapatilhas, colocou-as junto às outras sandálias e entrou descalça na sala de aula.
— O meu nome é Sofia e venho à escola para aprender a ler e a escrever!
Na sala, onde havia só rapazes, começaram logo os risinhos.
— Silêncio! — disse a professora, colocando o dedo sobre os lábios fechados.
— Vem cá, és muito bem-vinda. Diz-me, de onde vens?
— De Andong Kralong.
A professora, apanhada de surpresa, disse em surdina:
— Mas, essa aldeia fica a oito quilômetros daqui!…
— Pois fica, senhora professora, mas eu tenho as minhas sapatilhas!
Os rapazes continuavam com as suas risadinhas, tapando a boca com as mãos. Os olhos da Sofia encheram-se de lágrimas.
— Mas, tu és uma rapariga! — sussurrou um dos alunos.
Sofia engoliu toda a raiva que sentia e manteve-se de cabeça erguida e quieta como a serpente antes de atacar a presa. Em breve chegaria o momento da desforra.
Acabada a aula, Sofia calçou as sapatilhas e atou os seus cordões, com um triplo nó. Então, virou-se para os rapazes, olhou-os de frente e disse:
— Já que são tão espertos, venham agarrar-me!
Os rapazes, empurrando-se uns aos outros, logo desataram a correr atrás dela. Em vão.
Na manhã seguinte, Sofia acordou antes do cantar do galo. Sair tão cedo permitiu que fosse a primeira a chegar à escola. Os rapazes iam chegando de sorriso envergonhado… É que ainda não tinham esquecido a derrota, na corrida da véspera. E, a partir daquele dia, Sofia aprendeu muito naquela escola de uma única sala.
Passou um ano. Uma manhã, Sofia estava sentada junto da mãe quando, de repente, se levantou uma nuvem de poeira na encosta. O porco começou a grunhir. As galinhas a cacarejarem. Era o homem dos números que voltava no seu carro vermelho.
Nesse momento, as primeiras gotas de chuva começaram a formar pequenos círculos na superfície da água do rio, círculos que se alargavam cada vez mais. Começava a monção. Sofia olhou as nuvens que se formavam e pensou que, agora, iria ter menos calor a caminho da escola.
O homem dos números contou as pessoas da aldeia e, ao fim do dia, chegou a casa de Sofia. E olhou para os pés nus da menina.
— Onde estão as tuas sapatilhas? — perguntou.
Sofia sorriu e, com ar de desafio e mãos na cintura, disse:
— Só calço as minhas sapatilhas para ir à escola.
E os dois começaram a rir.
— Hoje, eu quero mostrar-lhe uma coisa — disse Sofia. — Venha comigo, por favor.
Caminharam juntos e em silêncio, até à margem do rio. Chegados aí, Sofia, de cabeça baixa, disse timidamente:
— Um dia, quero construir uma escola na minha aldeia, e…
— O quê?
— Também quero ser professora — afirmou Sofia.
Pegou numa cana de bambu e agarrando-a com as duas mãos, escreveu na lama de argila:
Muito obrigada pelas sapatilhas.
Agora, já sei ler e escrever.
E fez-se um tal silêncio que se podia ouvir o borbulhar da água a correr por entre os seixos.