A peteca é uma modalidade esportiva de tradição regional de origem
indígena brasileira, surgida em forma de competição no estado de Minas
Gerais. Trata-se de uma modalidade que se apropriou de parte da
estrutura do voleibol na organização do espaço e do controle de jogo,
tais como: a altura da rede, a contagem de pontos, os fundamentos
(toque, cortada, saque, defesa). Utiliza-se um implemento (a peteca
propriamente dita) que é golpeado ou tapeado de um lado para o outro da
quadra, em toque único, isto é, não se permite a armação de jogadas como
no voleibol. O objetivo é fazer a peteca tocar no espaço de jogo
adversário delimitado pelas linhas laterais e de fundo. Pode ser
praticado individualmente ou em duplas.
A origem da peteca é cheia de nuanças como foram as origens de tantas
outras modalidades. O implemento do jogo tem uma versão asiática – em
Singapura, por exemplo –, onde se tornou muito popular como brincadeira
infantil. Por outro lado, a peteca é um jogo tradicional de indígenas da
região centro-sul do Brasil. Assim, alguns historiadores sugerem que a
peteca já estava presente na cultura dos índios brasileiros, mesmo antes
da chegada dos portugueses. Além disso, a peteca teria sido utilizada
como recreação de crianças e moças brancas e negras durante o Brasil
Colônia, se estendendo até a atualidade. Inicialmente era um brinquedo
confeccionado artesanalmente com penas de aves domésticas, palha de
milho e pequenas pedras e fazia parte do folclore mineiro. A peteca
passou também a ser fabricada por empresas de brinquedo infantil que as
confeccionavam coloridas e macias. De geração em geração, os
antepassados foram transmitindo esta atividade que se espalhou pelo
Brasil, mas, sem a forma competitiva na feição hoje encontrada em Minas
Gerais. Todavia, a peteca originou uma terceira forma de jogo, como se
pode presenciar nas praias cariocas. Portanto, o brinquedo peteca deu
origem ao esporte peteca. Pela simplicidade das ações que envolvem o
jogo (regras e elementos técnicos) rapidamente tornou-se atrativo em
clubes e colégios de MG como forma de atividade física e de lazer.
Hoje se torna inconcebível que exista algum clube recreativo e
esportivo em Minas Gerais que não tenha quadras demarcadas para esta
modalidade. Todavia, apesar de muito difundido no estado de MG, ainda é
pouco conhecida em outros estados, embora a expansão da modalidade
oficial tenha se dado pelas fronteiras com os estados do ES, DF, GO, BA e
SP. O auge da peteca ocorreu na década de 1980, quando foi criada a
Copa Itaú em Belo Horizonte. Este evento foi considerado a segunda maior
participação de atletas no Brasil, naquele período, perdendo apenas
para a corrida de São Silvestre. O apoio da mídia a Copa Itaú fazia com
que o esporte ganhasse notoriedade. Hoje não existe um evento que tenha a
mesma repercussão, embora o Banco Itaú mantenha um torneio no Triangulo
Mineiro.
1920: A peteca surge como recreação e aquecimento para
nadadores da equipe brasileira que participou dos V jogos Olímpicos de
Antuérpia, Bélgica. Nesta ocasião supõe-se que tenha despertado o
interesse de atletas e treinadores de outras nações que presenciavam a
novidade brasileira. Segundo testemunhos, a partir destes fatos surgiram
os primeiros pedidos vindos dos finlandeses a José Maria Castelo
Branco, chefe da delegação brasileira, naquele evento. Teriam solicitado
ainda, a elaboração de regras e a padronização do jogo.
1936: O professor alemão K.H. Krohn “descobre” o jogo de peteca
passeando na praia de Copacabana, Rio de Janeiro-RJ. Ao voltar a
Alemanha promove o novo esporte sob a denominação “indiaca”, a qual
sobrevive até hoje tendo sido incluído no dicionário Brockhaus. Este
registro léxico identifica a “indiaca” como jogo tradicional indígena do
Brasil.
Década de 1940: Minas Gerais inicia a versão
competitiva no jogo, realizando prélios internos nos clubes de Belo
Horizonte, pioneiros do esporte. À época, algumas residências em Belo
Horizonte já tinham uma quadra de peteca em suas dependências.
1973: As primeiras codificações das regras da peteca são estabelecidas e assim surge a participação maciça de homens, mulheres, idosos, jovens e crianças que passam a praticá-la, seguindo as regras padronizadas.
1974: A Federação Atlética Alemã-DTB declara o “indiaca” como o esporte do ano.
1975: Em 15 de julho é fundada a Federação Mineira de Peteca – FEMPE, confirmando o pioneirismo no esporte em MG.
1977: O Conselho Nacional de Desportos-CND, através
do Decreto nº 80.228, considera a peteca uma atividade física
genuinamente brasileira.
1978: O Mobral edita o livreto “Vamos jogar Peteca”, elaborado
por técnicos do centro Cultural e do Grupo Executivo da Campanha
“Esporte para Todos” – GECET, do Ministério da Educação – supervisão da
Profª Maria Luiza Gonçalves Cavalcanti. Posteriormente a Secretaria de
Educação Física e Desporto do MEC colaborou com a divulgação do esporte
em todo território brasileiro via Campanha Esporte para Todos.
1985: Sob esforços de Outorgantino Magalhães Dias “Tote” é
aprovada em Brasília no dia 17 de agosto a oficialização do esporte, na
segunda sessão do Plenário do Conselho Nacional de Desporto – CND,
resolução nº 15/85, cabendo a Confederação Brasileira de Desporto
Terrestre – CBDT a incumbência de codificar e estruturar o desporto como
determina a lei.
1986: Em 1o de abril, a CBDT nomeou o esportista
Walter José dos Santos para dirigir o Departamento de Peteca, bem como
codificar as regras e regulamentos. Neste mesmo ano, em 6 de novembro,
realiza-se em Belo Horizonte-MG a primeira reunião especialmente
convocada para o estudo de providências, na qual estiveram presentes
representantes de várias entidades incentivadoras da modalidade:
Outorgantino Magalhães Dias (FEMPE), Walter José dos Santos (CBDT),
Waldemar Aluysio Pereira (AABB), José Ely Rasuck (Minas Tenis Clube),
Enedir das Graças de Souza (ACM), Marcílio Menezes (Cruzeiro E. Clube)
entre outros.
1987: Foi realizado em Belo Horizonte o 1º Campeonato Brasileiro de Peteca.
1991: Realização do 1º Campeonato brasileiro de interclubes de seleções estaduais.
1993: 1ª Copa Itaú de Peteca de Uberlândia, organizada pelo Praia Clube. Esta Copa acontece sem interrupção até a presente data.
1996: A Peteca passa a fazer parte do programa dos Jogos Universitários Brasileiros – JUBs realizado em Florianópolis – SC.
1998: Fundação da Liga Mineira e Entidades de Peteca
– LIMEPE em Belo Horizonte, em 30 de março. Também foi fundada por
atletas veteranos a Liga Máster de Peteca no triângulo mineiro com
equipes de Minas Gerais, Goiás e Brasília. É uma liga independente, sem
vínculos com clubes sociais ou federações. Já foram realizados 21
encontros ao longo de sua existência. Como exigência do estatuto desta
liga, os atletas interessados devem ter no mínimo 46 anos, além de terem
em suas equipes (que é formada por trios), um atleta com idade superior
a 51 anos.
2000: Fundação da Confederação Brasileira de Peteca-CBP, sendo fundador o Sr. Lazaro Soares, que assumiu a presidência.
2003: Realização da X Copa Itaú de Peteca em Uberlândia.
Situação Atual: No plano internacional houve um
avanço da modalidade peteca por poder ser praticada por qualquer pessoa,
em qualquer idade e em qualquer lugar. Por isso, no final da década de
1990, foi criada a International Indiaca Association – IIA, com sede na
Alemanha. Nesta entidade há dois brasileiros (Antônio Abreu, como vice
presidente, e Paulo Oliveira, como membro da Comissão Técnica) que se
juntam a membros dos países em que o esporte se desenvolveu: Japão (um
milhão de praticantes), Alemanha (20 mil praticantes), Estônia,
Eslováquia e Suíça. Neste particular já houve duas Copas do Mundo de
Peteca, realizadas na Eslováquia em 2000, e em Berlim, em 2002. A Copa
de 2004 aconteceu no Japão. No Brasil, as federações e a confederação
tem organizado competições para distintas faixas etárias, tanto masculinos
como femininos em um mesmo evento. Este procedimento difere de
praticamente todas as outras modalidades, quando os eventos acontecem em
períodos distintos e nem sempre organizados pelas federações e
confederações.
O departamento de Educação Física da Universidade Federal de Viçosa –
UFV, entendendo a importância da peteca na cultura mineira, criou nos
anos de 1990 uma disciplina específica sobre a modalidade, visando
atender aos interesses dos alunos do curso de formação profissional. A
peteca, por ter se originado de um jogo tradicional brasileiro e de
brincadeira infantil, basicamente recreativo, sofre, ainda, um forte
preconceito, pois muitos não a compreendem como um esporte de
competição. Portanto, apesar do brinquedo peteca ser amplamente
conhecido, o esporte peteca ainda é algo meio abstrato para a maioria
das pessoas que não moram na região sudeste e especificamente em Minas
Gerais. Os campeonatos oficiais brasileiros são organizados em forma de
torneio, que em geral acontecem em apenas um final de semana. Isto é, os
eventos são curtos e o período de preparação dos atletas muito longo. A
falta de um calendário mais freqüente dos eventos faz com que a
modalidade seja geralmente mais praticada como atividade recreativa. Os
prêmios oferecidos aos atletas vencedores dos principais eventos,
quando existem são simbólicos, os quais não permitem que a modalidade
tenha atletas profissionais, aqueles que possam se dedicar
cotidianamente ao treinamento da modalidade. A maioria dos clubes não é
filiada às federações estaduais, o que dificulta o controle dos eventos,
embora estes ocorram com freqüência nos diversos clubes praticantes. Em
geral, são eventos para os próprios associados e convidados, com
divulgação interna e precária. Somente no primeiro semestre do ano de
2003 a FEMPE apresentou um calendário oficial constando 15 eventos.
O Campeonato Mineiro de 1994, promovido pela Federação Mineira de
Peteca – FEMPE, reuniu cerca de 1.200 atletas, representantes de 48
cidades. Os Jogos do Interior de Minas também demonstram a expansão da
peteca no estado. A dimensão da quadra de peteca favorece condomínios e
prédios residenciais que podem incentivar a prática, inclusive, a quadra
de peteca nas plantas destes empreendimentos funciona como atrativo
para a venda dos imóveis.
Uma vantagem da peteca sobre as demais modalidades é a realização
simultânea de competição oficial em diversas categorias em função da
idade, tanto masculina como feminina. Somente no primeiro semestre de
2003, a Liga Mineira e Entidades de Peteca – LIMEPE noticiou em seu
calendário a existência de 11 eventos abertos no estado. Entre as
décadas de 1970 e 1990 várias copas auxiliaram o processo de difusão da
modalidade. Essas copas eram patrocinadas pelas empresas que recebiam
seu nome: Copa Itaú, Copa Bamerindus, Copa Chevrolet, Copa Kaiser, entre
outras. Hoje a ordem de grandeza dos praticantes de peteca em MG é
estimada no mínimo em 1,2 milhões de pessoas. Entretanto, somente há 21
clubes filiados a FEMPE, dos quais 10 são de Belo Horizonte. Os dois
pólos de prática de peteca em MG são Belo Horizonte (dados no mapa deste capítulo) e o Triângulo Mineiro. A produção diária de petecas nas duas principais fábricas de MG é de 1100 unidades.
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